Geralmente, os motivos principais que me levam a ir ver um filme prendem-se com a presença de um determinado actor ou a mão de um realizador de que gosto: não perco filmes com o Sean Penn, Ryan Gosling, Philipp Seymour Hoffman, Christian Bale ou Ewan McGregor, nem obras de Woody Allen ou Clint Eastwood. Para além das minhas preferências por determinados perfis, tenho o hábito de estar atenta às críticas, à receptividade do filme e gosto, claro, de estar bem documentada na altura de cerimónias como os Óscares ou Globos de Ouro. E, às vezes, vou ver um filme porque o trailer me chamou a atenção, mesmo não conhecendo o actor ou o realizador, como foi o caso de Ruby Sparks - filme esse que adorei.
A Hilary Swank não tem sido uma actriz particularmente consistente em termos de carreira. Apresenta uma média perfeita em termos de prémios: duas nomeações, dois Óscares (actriz principal), o que não é de ignorar, mas a verdade é que tem feito um filme bom por década.
Tinha lido em alguns blogues boas opiniões acerca do seu último filme, A Advogada, e fiquei com a curiosidade de ir ver. Confesso que não sabia muito bem o que me esperava quando entrei naquela sala enorme do El Corte Inglés no domingo à tarde. Começo já por dizer que gostei muito do filme. Já o digeri e já me sinto confortável para escrever sobre o assunto.
Há três questões fundamentais na minha análise (contém leves spoilers):
1 - O talento da Hilary Swank
É uma actriz muito física. Todos nos lembramos do papel de hermafrodita em Boys Don't Cry e da pugilista em Million Dollar Baby. Neste último, o papel de Maggie é um daqueles portentos da natureza. Não só o trabalho que antecedeu o filme (a preparação física, os 15 kg ganhos em músculo), mas principalmente aquela capacidade de comover, que é incomum. Lembro-me de ver uma entrevista em 2005 com a Annette Bening que, cinco anos antes, havia disputado o Óscar de Melhor Actriz e tinha perdido para a Hilary Swank com o Boys Don't Cry, e que agora se via na mesma posição a defender o seu Julia, Julia com a Maggie do Million Dollar Baby. O entrevistador perguntava-lhe: "Então, é desta que se vinga e fica com o Óscar?". E ela, com o dobro da idade da oponente, responde com um sorriso: "Eu gostava de dizer que sim, mas a Hilary é assombrosa naquele papel."
Neste filme, vemos uma Hilary crua e lutadora, como nos tem habituado nos seus grandes papéis. E tinha saudades desse registo. Quero esquecer-me que ela tem filmes como o "New Year's Eve" a estragar o seu portfólio.
2 - A unicidade da relação entre irmãos
Quem vier com a puta da conversa que as relações com os irmãos não são relações de sonho ou que "os amigos são a família que escolhemos", pode dar meia volta e retirar-se. Vão todos para o cacete!
Quem tem irmãos não sabe isto, mas eu explico: ser filho único é uma grande merda. Sabem porquê? Porque os filhos únicos morrem sozinhos. Não há ninguém a torcer por nós de modo visceral. Termos alguém, pertencente à nossa geração, que teve a mesma educação que nós, que partilha as mesmas memórias colectivas, é inigualável. E neste filme, temos acesso a esse tipo de amor: tão grande, tão forte. Fosse eu rainha do mundo, definiria já uma lei que proibia os casais de terem apenas um filho. Mais nada.
3 - Luta, sacrifício e missão
Este filme fez-me perceber uma coisa sobre a minha vida: nunca tive uma missão.
Já tive alguns objectivos pelos quais lutei, claro: aprender a fazer contas de dividir, estudar para os exames nacionais e tirar boas notas, acabar um curso universitário, perder peso, aprender uma língua. Sim, todos passamos por este tipo de metas, de maior ou menor grau. Mas quantos de nós já teve uma missão?
No filme, a missão da Hilary, já uma senhora casada e mãe de família, é defender o irmão de uma pena injusta. Como não confia na máquina do estado, acha que apenas ela o poderá fazer e decide ir estudar Direito. E lá a vemos: noites inteiras a estudar e a dar o cabedal. Um bocado à semelhança dos treinos duríssimos da Maggie no ginásio pela noite dentro. É essa atitude, força, perseverança e foco que me fazem ver que estou tão aquém do que um grande ser humano pode ser.
Não acho que seja um filme perfeito, nem um filme que ficará para história. No entanto, saí do filme com vontade de analisar a minha vida e definir prioridades, metas, desejo e uma grande missão. E, nem que seja por isso, aqueles 6 euros do bilhete foram os mais bem gastos deste ano.