25 dezembro 2012

Change of heart





Em português, muda-se apenas de opinião. Muda-se a forma como se pensa, como se considera um determinado assunto. Dorme-se sobre o assunto e pronto, no dia seguinte ou um ano mais tarde, pimba, a cabeça mudou em relação a alguma questão.
Mas em inglês, muda-se de coração. Muda-se a forma como se sente alguma coisa. E bolas, não nos têm convencido desde crianças que o que importa é como o coração vê? (Obrigada, Saint-Exupéry!) Por isso, vou deixar-me de coisas e vou regressar ao meu blogue de sempre, depois de um ano sem lá meter o teclado.
Sei que muitos dos leitores gentilmente me seguiram até este Dá-me um Lamiré, que honestamente pensei ser uma forma de começar do zero, mas sem querer fazer de vós bolas de pingue-pongue, peço-vos que eliminem os links relativos a este blogue e voltem ao Odisseando. Aquela sou eu. Sem capas, sem mariquices, sem merdas. E quando somos nós próprios, as coisas sabem sempre melhor.

13 novembro 2012

Dos filmes que dão cabo de nós: A Advogada



Geralmente, os motivos principais que me levam a ir ver um filme prendem-se com a presença de um determinado actor ou a mão de um realizador de que gosto: não perco filmes com o Sean Penn, Ryan Gosling, Philipp Seymour Hoffman, Christian Bale ou Ewan McGregor, nem obras de Woody Allen ou Clint Eastwood. Para além das minhas preferências por determinados perfis, tenho o hábito de estar atenta às críticas, à receptividade do filme e gosto, claro, de estar bem documentada na altura de cerimónias como os Óscares ou Globos de Ouro. E, às vezes, vou ver um filme porque o trailer me chamou a atenção, mesmo não conhecendo o actor ou o realizador, como foi o caso de Ruby Sparks - filme esse que adorei.
A Hilary Swank não tem sido uma actriz particularmente consistente em termos de carreira. Apresenta uma média perfeita em termos de prémios: duas nomeações, dois Óscares (actriz principal), o que não é de ignorar, mas a verdade é que tem feito um filme bom por década. 
Tinha lido em alguns blogues boas opiniões acerca do seu último filme, A Advogada, e fiquei com a curiosidade de ir ver. Confesso que não sabia muito bem o que me esperava quando entrei naquela sala enorme do El Corte Inglés no domingo à tarde. Começo já por dizer que gostei muito do filme. Já o digeri e já me sinto confortável para escrever sobre o assunto.
Há três questões fundamentais na minha análise (contém leves spoilers):

1 - O talento da Hilary Swank
É uma actriz muito física. Todos nos lembramos do papel de hermafrodita em Boys Don't Cry e da pugilista em Million Dollar Baby. Neste último, o papel de Maggie é um daqueles portentos da natureza. Não só o trabalho que antecedeu o filme (a preparação física, os 15 kg ganhos em músculo), mas principalmente aquela capacidade de comover, que é incomum. Lembro-me de ver uma entrevista em 2005 com a Annette Bening que, cinco anos antes, havia disputado o Óscar de Melhor Actriz e tinha perdido para a Hilary Swank com o Boys Don't Cry, e que agora se via na mesma posição a defender o seu Julia, Julia com a Maggie do Million Dollar Baby. O entrevistador perguntava-lhe: "Então, é desta que se vinga e fica com o Óscar?". E ela, com o dobro da idade da oponente, responde com um sorriso: "Eu gostava de dizer que sim, mas a Hilary é assombrosa naquele papel."
Neste filme, vemos uma Hilary crua e lutadora, como nos tem habituado nos seus grandes papéis. E tinha saudades desse registo. Quero esquecer-me que ela tem filmes como o "New Year's Eve" a estragar o seu portfólio.

2 - A unicidade da relação entre irmãos
Quem vier com a puta da conversa que as relações com os irmãos não são relações de sonho ou que "os amigos são a família que escolhemos", pode dar meia volta e retirar-se. Vão todos para o cacete!
Quem tem irmãos não sabe isto, mas eu explico: ser filho único é uma grande merda. Sabem porquê? Porque os filhos únicos morrem sozinhos. Não há ninguém a torcer por nós de modo visceral. Termos alguém, pertencente à nossa geração, que teve a mesma educação que nós, que partilha as mesmas memórias colectivas, é inigualável. E neste filme, temos acesso a esse tipo de amor: tão grande, tão forte. Fosse eu rainha do mundo, definiria já uma lei que proibia os casais de terem apenas um filho. Mais nada.

3 - Luta, sacrifício e missão 
Este filme fez-me perceber uma coisa sobre a minha vida: nunca tive uma missão. 
Já tive alguns objectivos pelos quais lutei, claro: aprender a fazer contas de dividir, estudar para os exames nacionais e tirar boas notas, acabar um curso universitário, perder peso, aprender uma língua. Sim, todos passamos por este tipo de metas, de maior ou menor grau. Mas quantos de nós já teve uma missão?
No filme, a missão da Hilary, já uma senhora casada e mãe de família, é defender o irmão de uma pena injusta. Como não confia na máquina do estado, acha que apenas ela o poderá fazer e decide ir estudar Direito. E lá a vemos: noites inteiras a estudar e a dar o cabedal. Um bocado à semelhança dos treinos duríssimos da Maggie no ginásio pela noite dentro. É essa atitude, força, perseverança e foco que me fazem ver que estou tão aquém do que um grande ser humano pode ser.

Não acho que seja um filme perfeito, nem um filme que ficará para história. No entanto, saí do filme com vontade de analisar a minha vida e definir prioridades, metas, desejo e uma grande missão. E, nem que seja por isso, aqueles 6 euros do bilhete foram os mais bem gastos deste ano.

02 novembro 2012

Objecto fétiche: follow-up

Pois é, não comprei a tal máquina de escrever. Nas indicações, o cliente mencionava que não enviava para fora dos Estados Unidos. Ainda escrevi um e-mail a tentar perguntar com jeitinho, mas ele disse que não compensava em termos monetários. Não quis pensar mais no assunto, pois com uma pesquisa rápida, percebi que há várias máquinas deste género a serem colocadas à venda. Encontrei estas três ainda mais giras:

...uma Olivetti em tom rosa-salmão...

...ou a Smith Corona neste rosa forte. Adoro!...
...e ainda esta Royal, com um ar tão fresquinho. 

Uma destas vai ser a minha prenda de Natal para mim própria. 
É desta que recomeço a escrever cartas para os amigos.

16 outubro 2012

Objecto fétiche


1. A Lily Braun pensa: "Vou só ali espreitar o Ebay, assim como quem não quer a coisa".
2. A Lily Braun anda há alguns meses a pensar que quer-porque-quer uma máquina de escrever vintage.
3. Cor-de-rosa.
4. A Lily Braun tem esperança de que dali possa sair o meu primeiro livro. Cof, cof.
5. A Lily Braun vê esta máquina de escrever.
6. Os 160 dólares da última licitação demovem-na.
7. O maldito vendedor tem a ideia de acabar o anúncio com "You're not buying a typewriter. You're buying history".
8. A Lily Braun vibra por dentro com tanta excitação.
9. A Lily Braun engole em seco e vai analisar a sua conta bancária.

(aguardam-se cenas dos próximos episódios)

24 setembro 2012

O primeiro domingo de Outono


Morando a um minuto do Rossio, ganhei o hábito de ir todos os domingos à Papelaria Tema (na Avenida da Liberdade) gastar uma pequena fortuna em revistas e jornais, que é um dos meus grandes prazeres.
Uma vez por mês, largo 14 euros para comprar a revista da Oprah e, consoante os temas de capa, vou comprando a Monocle, Intelligent Life, as Elle, Vogue e Glamour internacionais e algumas publicações portuguesas. Não falho o DN ou JN, porque a Notícias Magazine (o suplemento que sai aos domingos) é uma das minhas revistas portuguesas preferidas.
Ontem comprei a Glamour italiana, uma revista femininas que deixa as suas congéneres portuguesas a anos-luz de distância. Tem sempre excelentes artigos sobre carreira (e não aqueles artigos estúpidos que lemos na Cosmopolitan portuguesa do tipo "O que fazer quando o meu patrão se atira a mim?"), sobre tecnologia, sobre exemplos de mulheres que se distinguem em alguma área e, obviamente, o normal: moda, sexo, maquilhagem, etc. É uma excelente revista.
Depois, não podia perder a Monocle - aliás, nenhum português deveria perdê-la este mês: o grande tema de capa é dedicado aos motivos que tornam a língua portuguesa a nova língua de poder no mundo. Vale os 8 euros, para quem tiver interesse sobre o tema. Ainda só li uma página, mas acabo esta semana. Espero. Comprei a LuxWoman porque estava curiosa com a entrevista da Joana Santos (é boa actriz, a gaja!) e porque gosto sempre dos temas da rentrée. Mas, à semelhança de outras publicações nestes últimos meses, como a Activa, traz erros de paginação, pelo que tenho umas 10 páginas comidas e a entrevista com a Joana ficou a meio. Inadmissível este tipo de erros.

Portanto, não, não fico triste com a despedida do Verão. Gosto do fresquinho, da ideia de me sentar no starbucks a beber um chá quente e a ler revistas. Até que o rabo me doa.


21 setembro 2012

Roma, Woody Allen e os franchisings


Comentava-se esta manhã no Facebook, numa bela e animada conversa, que o Woody Allen agora só fazia franchisings. Ou seja, filmes por encomenda, criados propositadamente para um determinado cliente/estado/produtora. 

Se os filmes do Woody Allen são sempre filmes do Woody Allen e, por isso, dignos de algum crédito, também é verdade que, por vezes, filmes com desfiles de muitas estrelas de cinema juntas normalmente significam merda. Não consigo tirar da cabeça filmes do tipo "New Year's Eve" e "Valentine Day" de tão maus que foram. A sorte é que as carreiras do De Niro, Hillary Swank e outros actores de excelente reputação não ficam afectadas com estes...deslizes.

Ontem fui ver Para Roma com Amor. E esclareçamos já uma coisa: sou a maior defensora de Itália que existe. Morei no país transalpino durante 3 anos, conheci muitas cidades, muitas realidades e muitas pessoas. E se, à partida sou contra a romantização excessiva dos italianos e da Itália, em geral, é um país muito especial. Tem o Roberto Benigni, tem a Sofia Loren, tem o Ferrari e a Ferrero, tem a ópera, tem a pizza, tem o Lago de Como e tem mar, neve e campo, tudo em perfeita harmonia. Sim, eu sei disso. 

Talvez a minha veia crítica aguda estivesse particularmente excitada ontem, mas não fiquei encantada com o novo filme do Woody Allen. À parte da metáfora sobre as celebridades instantâneas, que é uma realidade muito forte em Itália (eles já estão no Big Brother 13, imaginem, e em cada um deles saem novas celebridades que povoam as revistas durante anos), interpretada de forma tolinha pelo Benigni, o filme não trouxe nada de novo ao meu coração. Claro que há uns planos de imagem bonitos, um pôr-do-sol alaranjado e romântico sobre as igrejas com muitos séculos...mas o meu cerebrozinho não absorveu muito mais. Nem o fogo da Penélope Cruz serviu para salvar o filme.

Mas vá, não fiquem chateados comigo: vão ver o filme e depois partilhem as opiniões!


Ser freelancer: a adaptação à vida de um profissional liberal

Já completei 6 meses de vida de profissional liberal e ainda estou viva.
Tenho quase receio de dizer que está tudo a correr lindamente e que estou com mais trocos no bolso agora do que dantes, porque já sabemos como actuam os deuses do azar.
Ser freelancer significa, em primeiro lugar e sobretudo, ser livre. Livre para escolher como usar o meu tempo da forma que me convém. Não sendo eu uma pessoa particularmente disciplinada, aqui reside o meu grande desafio.

Descrição do meu modus operandi actual:

- vivo ao sabor do meu volume de trabalho: se tenho projectos de tradução urgentes, levanto-me às 6h00 da manhã e deito-me às 3h00 da madrugada.
- ainda não encontrei a agenda perfeita: vou alternando entre o Google Calendar, a minha agenda em papel (que continuo a teimar em comprar todos os anos, embora em Fevereiro já mal toque nela), o calendário do iPhone, uma app toda XPTO de organização pessoal e um ficheiro excel onde vou introduzindo os projectos, seja profissionais, seja pessoais. Enfim, uma confusão.
- na maioria dos dias durmo até tarde. Se, por um lado, estou a dar rédea livre à minha condição de noctívaga, por outro lado ganho frustração, porque se há coisa de que gosto é levantar-me cedo, apanhar no rosto o fresco da manhã e chegar às 11h00 já com uma série de coisas riscadas da minha to-do list diária.
- para compensar a solidão a nível laboral, saio quase todas as noites: felizmente tenho um leque vasto de amigos que me permite tomar café ou jantar com uma pessoa diferente todos os dias da semana. Mas até isso cansa: quando tornamos os momentos de lazer/sociais demasiado frequentes, estes no plano geral acabam por perder o tom especial.
- não tenho regras e não ter regras é o primeiro passo para o descalabro, físico e mental.

Descrição do meu modus operandi ideal: 

- a Lily Braun, a freelancer perfeita, levantar-se-ia todos os dias às 7h30. Comeria o pequeno-almoço em casa e a bica matinal na rua. Iria para o escritório que adora logo de manhã cedo, sem que os seus colegas, também eles freelancers, gozassem com ela por aparecer normalmente por volta das 12h00 no espaço de trabalho;
- teria uma agenda única onde organizaria o seu tempo de modo equitativo: a sua vida social, as suas idas ao ginásio e os passeios de bicicleta em Belém, o seu trabalho, o seu blogue pessoal e o blogue profissional e um espaço de manobra para os encontros inesperados;
- Pronto, estes dois pontos já me deixariam muito satisfeita.

É, acima de tudo um work in progress, por isso estes serão os objectivos para o próximo semestre.


06 agosto 2012

Ser freelancer: coisas boas

Podes passar quatro dias de merda, a encharcar-te de café e a deitar-te às 5 da manhã para acabar o projecto. Mas nesses dias ganhas um equivalente a 3 salários mínimos e quando finalmente entregas o projecto sentes que ganhaste o ouro olímpico.


02 agosto 2012

Ser freelancer: como tomar a decisão?



Há vários factores que, com o passar do tempo, vão apontando nessa direcção. Para mim, foram os seguintes:

  • acordar todos os dias com o desejo de ser atropelada no caminho para o escritório para não ter de ir trabalhar. Esta infelicidade e frustração, só por si, deveria ser suficiente. Mas nós temos um talento extraordinário para não escutarmos a nossa intuição e o nosso corpo; 
  • encontrar alguém do nosso círculo de amigos que seja uma inspiração. Há poucas pessoas que estudaram comigo na faculdade que trabalham, efectivamente, na área da tradução. Eu era uma delas. Depois soube de uma antiga colega, mais nova do que eu, que tinha arriscado e comecei a perguntar-me "porque não hei-de conseguir também?". Claro que os meus auto-boicotes internos me diziam: "Ah, mas aquela pessoa pode ter ajuda da família", "mora numa cidade pequena, logo as despesas que tem com a habitação são muito menores do que as minhas”, “mas ela é casada e o marido poderá bancar-lhe em meses mais difíceis”. Sim, pensei em todas estas hipóteses até à exaustão, mas na verdade foram apenas desculpas para não começar a analisar a minha vida de forma séria e concreta.
  • ler e ouvir testemunhos que nos toquem particularmente (o que a Pipoca Mais Doce escreveu aqui foi muito inspirador);
  • pedir conselhos aos amigos – mas não em demasia: comigo não resultou muito bem. Lembro-me de ter feito um ficheiro excel com as vantagens e desvantagens de me despedir. Enviei para uns 5 ou 6 amigos e eles foram preenchendo e dando a opinião. Houve alguns amigos que não ofereceram grande apoio (´"ai que o mercado está tão mal”, “ai a crise”, “ai, não pode ser tão mau assim, aguenta-te mais um aninho"). Repito: acordar e querer ser atropelada não é um bom sinal.
  • iniciar um processo de preparação mental: consultar consultar um psicólogo e/ou um coach, por exemplo. Eu fiz ambos, um a seguir ao outro, mas foi desde que me inscrevi num workshop com a Sílvia Baptista, que comecei a arregaçar as mangas. O workshop ajudou-me a dar os passos na direcção certa;
  • analisar a situação financeira: perceber se temos algum tipo de poupança; criar um business plan; no caso de trabalhar com actividades paralelas há algum tempo, fazer um balanço dos rendimentos dos últimos 12 ou 18 meses; delinear um plano de acção de marketing;
  • acordar num dia e, simplesmente, decidir. O processo de decisão é rápido, imediato e indolor. Nós, à partida, sabemos sempre o que fazer. No entanto, quando não damos um passo em frente é porque nos detemos a pensar em tudo aquilo que pode acontecer. É normal e justo. Eu estive 1 ano e meio infeliz no trabalho, por isso, durante 18 meses eu soube qual era a decisão a tomar.

01 agosto 2012

Ser freelancer em Portugal


Antes de me tornar freelancer, eu trabalhava como gestora de projectos numa empresa de tradução em Lisboa. O trabalho é mais ou menos o equivalente ao trabalho de um account numa agência de publicidade: eu estava em contacto com os clientes, orçamentava os projectos de tradução, depois encontrava o tradutor e o revisor adequado para aquele projecto e era responsável por assegurar a qualidade final do mesmo, entregando-o no final ao cliente. É uma função cansativa e esgotante: escreve-se cerca de 50-100 e-mails por dia, lida-se com todo o tipo de pessoas, temos de ser problem-solvers. Sim, porque há sempre aquele tradutor que não entrega o trabalho na hora marcada porque "esteve no hospital a noite toda e depois vomitou e depois alguém lhe deu um tiro na mão direita e ele não podia teclar nem completar o trabalho". Pois, parece que estas coisas acontecem. 
Depois de 2 anos e 3 meses a resolver os problemas dos outros - e de conciliar esta actividade com o trabalho de tradutora freelancer em casa - decidi que era hora de experimentar e arriscar, dedicando-me ao freelancing. Para além de tradutora, faço alguns projectos de voz-off. E, sobretudo, gostava de ter mais tempo para novos desafios: estudar jornalismo, fazer mais cursos de escrita, dedicar-me ao meu álbum, aprender a tocar viola, etc. Sou uma pessoa que gosta e precisa de fazer muitas coisas e, definitivamente, isso não se coaduna com a filosofia de um trabalho de escritório.

Nos próximos dias - pois, quero render o peixe - vou debruçar-me um pouco mais sobre este assunto, focando os seguintes pontos, de acordo com a minha experiência:

- Como tomar a decisão?
- A adaptação à vida de um profissional liberal
- Aspectos positivos e negativos (não os clichés que se lê nos blogues de produtividade)
- Como conjugar e distinguir o plano pessoal do profissional?

31 julho 2012

O cansaço patrocinado pela Nestlé

Durante os últimos 5 anos conjuguei sempre duas actividades laborais: o meu trabalho de dia (em empresas menores ou maiores, sempre muito atarefadas) e o meu trabalho como tradutora freelancer nas horas livres. À medida que o tempo foi passando, o volume de trabalho na área da tradução foi aumentando e o tempo efectivamente livre foi escasseando. 
Deixou de ser uma ou duas noites por semana a trabalhar até à 1 ou 2 da manhã. Começaram a ser quatro ou cinco. Se por acaso queria jantar fora num dia ou noutro, deixava o trabalho para o fim-de-semana. De noites de trabalho ocasionais a uma total ocupação do meu dia-a-dia foi um pulo. Para me manter acordada, as bolachas, chocolates e o café desempenharam um papel fundamental. Ainda pensei em ser fumadora: sempre achei uma grande pinta às fotografias dos escritores e intelectuais boémios sentados em frente de uma máquina de escrever, tudo muito vintage, como manda o figurino. Mas não sei travar por isso tive de desistir logo da ideia. Portanto, restavam-me as bolachas e o café. As bolachas tive de as abandonar pois o meu rabo não parava de crescer, mas o café manteve-se o meu grande amigo.
A partir do momento em que me tornei freelancer, as noitadas já não são tão frequentes. De qualquer forma, como tenho uma forma muito peculiar de lidar com os prazos dos meus projectos (leia-se: dá-me adrenalina trabalhar à justinha, mesmo antes da deadline), por vezes lá faço as minhas loucuras: deitar-me às 4 da manhã ou levantar-me às 6 e trabalhar antes de ir para o escritório. 
Nos últimos meses tenho notado que, ao contrário dos tempos em que trabalhava em duas actividades (chegando a maratonas de 16 horas diárias), ando com pouca energia. Durmo 7-8 horas por dia, tenho menos tensão e mesmo assim andava mole. Mesmo tomando doses industriais de café.
Hoje, ao substituir o frasco de Nescafé da prateleira da cozinha, deparo-me com esta assustadora realidade:


Ou seja, tenho andado a beber descafeinado nos últimos meses. WTF?


Muita parra, pouca uva

Pensei que seria mais fácil. 
Achei que a parte mais complicada já tinha sido feita: escolher um título, encontrar um template, contactar os antigos leitores, ir respondendo às solicitações de amigos da blogosfera, explicar às pessoas que tinha criado um novo blogue e pronto, já estava.
Enganei-me rendondamente: o título já me parece parvo, o template já não me atrai, deixei os leitores e amigos pendurados e lá continuo eu com a mesma vida, como se nada fosse.
Não se trata sequer de falta de inspiração para escrever, sabem? Não, é algo mais do que isso. Continuo a ter um Facebook muito activo, em que convido todos a participar, como se a minha vida fosse um jogo popular. É isso que realmente me fascina: o feedback sobre as coisas que escrevo: deleito-me com as opiniões boas e fico sob uma tensão desmesurada com as opiniões más. Mas aprecio essa dicotomia.
Ando sempre na dúvida se torno este blogue público no Facebook ou se mantenho o meu anonimato que durante tantos anos sempre desejei. E enquanto não desfaço esse novelo na minha cabeça, não escrevo. Grande erro.
Farto-me de ler blogues sobre produtividade e sobre blogar (pronto, sei que não se tem notado) e tenho visto esta ideia repetidamente: mesmo que não tenhas vontade, sê disciplinado e escreve todos os dias. A escrita melhora com os dias e exerce-se como um músculo. A minha escrita neste momento parece um balão encontrado atrás do sofá dez dias depois da festa: flácido e mole.*
Isto para dizer que não me esqueci deste espaço, não desisti da ideia de desenvolver este blogue, mas que estou a demorar um bocadinho de mais tempo do que pensei. Mas eu chego lá. :)




*Metáfora roubada à personagem da Lynette, das Donas de Casa Desesperadas, ao exemplificar como ficam as mamas de uma mulher que já foi mãe 4 vezes.  




20 maio 2012

Estou viva



Não se preocupem, eu estou viva.
Neste momento, estou em Palermo a acabar um enorme projecto de tradução, mas a partir de amanhã entro em férias (duas semanas, vá) e vou fazer um proper catching up convosco.

Conteúdo editorial para os próximos dias:

- contar-vos o que é ser freelancer em Portugal no ano da crise;
- explorar as vantagens e desvantagens desta opção de vida;
- falar sobre o conceito de "cowork" e como encontrei um lugar fantástico para trabalhar na Lx Factory, em Lisboa;
- contar-vos sobre o meu novo desafio profissional como tradutora e blogger oficial do TUMBLR (eles que não saibam que tenho um blogue na plataforma concorrente, schhh...)
- lamentar-me (com o máximo de humor possível) sobre como continuo sem ter sorte nenhuma com os homens;
- falar sobre a série Donas de Casa Desesperadas
- partilhar convosco a definição da felicidade
- falar-vos sobre as pessoas de Palermo (conclusões tiradas depois do segundo dia cá)

Até já, meus amigos.

12 abril 2012

Tenho medo da minha dermatologista!







Em Janeiro resolvi ir a um dermatologista, porque tenho umas manchas escuras no pescoço há mais de um ano que me andam a incomodar. Não sendo eu de Lisboa e como a escolha de médicos baseia-se muito no boca-a-boca, fiz uma breve pesquisa no Google tentando encontrar bom feedback de dermatologistas em fóruns e sites da especialidade.

Encontrei boas referências acerca da Dra. Manuela Cochito («Bem, se vai à televisão, ao programa da Fátima Lopes, é porque deve ser boa», pensei eu) e em Novembro lá marquei uma consulta. Claro que com a própria Manuela Cochito só havia vaga após 5 meses, resolvi ficar com uma médica (Dra. Diamantino), ainda que a superstar Dra. Cochito supervisione a consulta e vá lá dar o seu parecer.

Disseram-me que tinha acne (eu, que não tenho uma única borbulha) e deram-me uns comprimidos fortíssimos e fizeram-me jurar a pés juntos que não iria engravidar nos próximos tempos, pois podem criar deformações nos fetos e coisas afins. Fui à farmácia com uma lista interminável de cremes de dia, bronzeadores factor 50 (eu que sou negra, mas dizem que é importante), cremes de noite, despigmentantes, sérum, creme hidratante extra, gel para não sei o quê, tendo deixado naquele estabelecimento cerca de 300 euros. Fora os 100 da consulta, claro.

Passados 3 meses de tratamento, não vi grandes melhorias na minha pele. As manchas continuam lá, embora a textura da pele possa estar melhor. Voltei ontem ao consultório porque tinha um peeling marcado. Peeling de ácido glicólico. Da forma como aquela porcaria ardeu, ninguém me tira da cabeça que aquilo não seria ácido sulfúrico, mas enfim, é melhor deixar de ser melodramática. Foi o primeiro de 3. E só não chorei de dor por vergonha.

Ora, o que me intriga na Dra. Diamantino é o seu ar de Stepford Wife. Simpática, sim. Excessivamente, diria eu. É daquelas pessoas que tem um sorriso estático nos lábios enquanto lhes contamos coisas sem graça nenhuma, do tipo «a minha pele estala de manhã» ou «as manchas não melhoraram».

Achei particular piada ao dizer-me que «após o peeling poderá fazer a sua vida normal». A verdade é que hoje sou uma versão mulata e cabeluda do Freddy Krueger.


E depois o pior de tudo: aperta a mão de forma frouxa. Só apetece é agarrar nela e dizer «SEJA VIGOROSA, MULHER!».

Torçam por mim. Eu só quero ter uma pele de bebé.

09 abril 2012

Novas descobertas musicais

Já tinha ouvido falar no Samuel Úria assim de relance. Mas nunca de forma intensa ou insistente ao ponto de ir à procura das canções dele.

No Facebook, eu e o Samuel temos alguns amigos em comum e, há uns dias, estivemos em amena cavaqueira até às 3 da manhã a falar sobre filmes. O rapaz é extremamente inteligente, bem-humorado, culto e muito simpático. E escreve lindamente, sem erros nenhuns. Senti-me à vontade com ele, ao ponto de ser a minha versão tola de sempre e não sentia a sombra de ele ser uma figura pública (ou a caminho disso) a provocar-me qualquer tipo de embaraço. No final da nossa conversa, como prova de "amizade virtual" desfez-se de alguns amigos da lista dele para me inserir no seu grupo de 5000 amigos. Ui, eu sou mesmo especial, eu sei!

Mas hoje...encontrei esta  música do Úria e fiquei encantada.

O que conhecem vocês da carreira do rapaz?


04 abril 2012

Entrevista com Lily Braun



Como estou a estugar o passo até aos 30 anos e ainda não me tornei na Oprah Winfrey portuguesa, o mais provável é que esta seja a única oportunidade da minha vida de ser entrevistada com pompa e circunstância. Mesmo que seja apenas eu a colocar questões e a respondê-las, mas um toquezinho de esquizofrenia nunca fez mal a ninguém, certo?

- Lily, muito obrigada por ter cedido alguns minutos para esta entrevista.
- Ora essa, Entrevistadora Simpática. Tenho todo o gosto em partilhar um pouco da minha vida consigo e com os treze leitores do Dá-me um Lamiré.

- Pois bem, a Lily deixou de escrever no seu blogue anterior em Setembro e nunca mais ninguém soube nada de si. Começo então por lhe perguntar algo que todos quererão certamente saber: o que tem andado a fazer?
- A minha vida deu uma grande volta nestes últimos meses. Passei um estado de overwhelmingness que durou demasiado tempo, a partir de Maio até ao início de Fevereiro.

- Overwhelmingness?
- Sim, não estou a utilizar esta palavra em inglês só porque sim. Não existe tradução. É mesmo um estado em que temos mil coisas na vida às quais queremos prestar atenção e que queremos controlar e mudar e não sabemos por onde começar. Quando estamos nesse estado, existem duas opções: ou enlouquecemos ou iniciamos o processo de mudança. E foi esta última que resolvi fazer.

- Como deu início a esse processo?
- Poderá achar que estou a brincar, mas cortei o cabelo. Utilizava o cabelo comprido há mais de 3 anos e resolvi cortá-lo e afirmar o meu AFRO de uma vez por todas.

- Interessante, realmente as mudanças radicais de visual despoletam sempre qualquer coisa numa mulher...
- Sim, é mesmo verdade. A questão é que, a partir de então, todas as peças se começaram a mover. Encontrei uma casa no centro de Lisboa e fui morar sozinha pela primeira vez na vida. Depois decidi despedir-me do meu trabalho e tornar-me freelancer. Precisava urgentemente de recuperar a vontade de me levantar de manhã e não desejar ardentemente ser atropelada para não ter de ir trabalhar.

- Despediu-se de um trabalho estável e com contrato sem termo? Como se sente em abandonar a certeza e ir voluntariamente para o mercado dos recibos verdes?
- Sinto-me bem. Muito bem. Essa coisa da estabilidade tornou-se muito relativa nos anos em que vivemos. Os mercados são voláteis e a qualquer momento podemos ver-nos sem chão. A maioria dos amigos apoiou-me, os meus pais não me fizeram perguntas. A única pessoa que pareceu verdadeiramente incrédula foi o meu chefe que teve a lata de me perguntar «Como é que vais fazer dinheiro?».

- (olhos abertos)
- Pois é. Ridículo, não é? O meu sonho é esfregar o meu IRS na cara dele, para que entenda que não preciso dele para nada.

- E como tem corrido a vida como tradutora freelancer?
- Estou a habituar-me lentamente a esta liberdade de que disponho. Como sou naturalmente noctívaga, ainda não consegui definir um horário para acordar, trabalhar e ir dormir pelo que ando a viver ao sabor do meu volume de trabalho. Tenho mais tempo para viajar, basta levar o meu Vaio e consigo trabalhar em qualquer lado.

- Assim, de repente, parece-me perfeito.
- A minha vida não está nada mal (risos).

- Lily, e planos para o futuro, tem algum?
- Bem, existe um projecto relacionado com música na calha. Um produtor convidou-me para gravar um álbum. Ainda estamos numa fase embrionária, de composição e de gravação de demos. Não tenho grandes pressas, mas a verdade é que a Lily Braun nasceu para cantar.

- Desejo-lhe a maior sorte do mundo.
- Muito obrigada. Para si também, Entrevistadora Simpática. Foi um prazer.

20 março 2012

Recomeço

Olá caros amigos, irmãos, camaradas!
Após 6 anos de blogosfera numa outra casa, eis que fez todo o sentido criar um novo espaço, uma nova identidade virtual. Porquê? Porque não gosto de estar calada. Vamos a isto, então!

Nota: existe lá palavra mais poderosa na língua portuguesa do que «recomeço»?